
Uma história que merece ser contada
O documentário ‘Uma Breve História da Imprensa LGBT+ no Brasil’ traz à tona as lutas da comunidade por representação e visibilidade
Por Livia Ruela e Marina Merli
Com direção de Lufe Steffen, o documentário ‘Uma Breve História da Imprensa LGBT+ no Brasil’ nos leva a uma viagem no tempo através de veículos emblemáticos que construíram a história da imprensa alternativa no País, desde os anos 60 até os dias atuais. Entre eles, destacam-se ‘Lampião da Esquina’, o zine ‘Chana com Chana’ e a revista "Um Outro Olhar". O documentário introduz essa temática a partir do pioneiro fanzine carioca ‘O Snob’, que até hoje se mantém vivo nas redes sociais. A fala de Agildo Guimarães, criador do fanzine, dá início ao contexto histórico no qual foi inaugurada a mídia LGBTQIA+ no Brasil.
O documentário foi exibido no campus da UNESP de Bauru no último dia 17 de abril, como parte da programação do Simpósio Cultura Audiovisual e Economia Criativa.
O longa aborda também revistas voltadas a mulheres sáficas, isto é, mulheres que se relacionam com outras mulheres. A produção explora revistas como ‘Um outro olhar’ e o zine “Chana com Chana”, 1982, que buscava conversar abertamente sobre sexo sáfico e autoconhecimento sexual. Contudo, o jornal interrompeu sua atividade em 1987 devido ao boicote decorrente de uma entrevista no programa da Hebe Camargo, quando Rosely Roth, uma das responsáveis pelo canal, foi criticada pela maneira “pouco feminina” de se vestir. O acontecimento dificultou o patrocínio e deu fim às colaborações com as distribuidoras, que encerraram as vendas do jornal.
“Uma Breve História da Imprensa LGBT+ no Brasil" explora as dificuldades enfrentadas por essas mídias que, desde muito cedo, criavam e reportavam conteúdos que contribuíam para a formação do movimento, mas que não eram incentivadas, tampouco bem vistas pela sociedade. O objetivo do documentário de Lufe fica claro no decorrer da obra, ao ressaltar a necessidade de demonstrar que a comunidade LGBTQIA+ sempre existiu, mesmo que esteja ganhando visibilidade na sociedade apenas recentemente.



A produção, no entanto, é confusa e não prende a atenção por muito tempo, em função da descontinuidade na apresentação dos acontecimentos, o que confunde o telespectador. No início, o documentário aparenta apresentar as mídias em ordem cronológica de acordo com suas criações, todavia, logo demonstra irregularidade, com idas e vindas na história. Mesmo que o conteúdo seja muito interessante e ainda pouco explorado no cenário brasileiro, a edição (que deixa a desejar) e a intercalação desconexa dão ao documentário um ar pouco profissional. Na segunda parte da obra, o diretor, que também é roteirista, escritor e jornalista, adicionou vários trechos do programa jornalístico do qual fez parte, Mix Brasil. E se insere na narrativa, inclusive na condição de entrevistado. A aparição é vigorosa num primeiro momento, mas torna-se cansativa, visto que toma mais tempo no documentário do que outros veículos mais potentes e relevantes dentro da história da imprensa LGBTQIA+.
Somos expostos a edições de imagem e movimentos de câmera, que intercalam a fala dos entrevistados e representações de jornais. Contudo, a movimentação utilizada nas imagens das mídias da época, que simulam o movimento de rolos de filmes, tornam o visual exaustivo e dificulta a leitura das capas. Além disso, os movimentos de câmera causam desconforto, visto que não há estabilização por parte do cinegrafista. Por outro lado, vale ressaltar a edição que referencia as câmeras de vídeo dos anos 60, que trazem a sensação de imersão na atmosfera da época.
O longa nasce do desejo de demonstrar a representatividade da comunidade na imprensa brasileira, desde quando parecia não haver conteúdos voltados para esse público. Com boa apuração e fontes interessantes, o documentário revela o processo árduo que esse grupo enfrentou para alcançar a visibilidade que tem hoje. Entretanto, Lufe deixou a desejar em aspectos técnicos e na narrativa utilizada.
Informações sobre o documentário
Título: Uma Breve História da Imprensa LGBT+ no Brasil
Direção: Lufe Steffen
Duração: 1h50